quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Amor, Eterno Amor!...

Coimbra, 16 de Dezembro de 2007

"Puto", em primeiro lugar não me vou alongar muito porque sei que não gostas muito de ler.

Bem, prometi-te que este ano te dava uma prenda mas como não hà guita para tudo, levas esta carta que já não é mau.

Peço-te agora uma coisa... pensa no que era a tua vida há um ano atrás: não tinhas a carta, nunca tinhas passado férias fora de Sesimbra, não namoravas com a Mariana, mas eu já lá estava. Daqui a um ano, provavelmente, muitas outras coisas serão diferentes mas eu continuarei ali, ao teu lado, sempre pronto para te ajudar.

Essa é a melhor prenda que te posso dar.

E nunca te falharei.
Tirarei de mim para te dar; Enquanto eu tiver algo, nada te vai faltar.

E sabes porquê? Porque enquanto as coisas corriam bem, todos me sorriam mas quando as coisas descambaram na minha vida tu foste dos poucos que me esticou a mão, que tirou para me dar, que chorou comigo, que sofreu por mim!

E, isso sim, é uma grande prenda... a melhor prenda que se pode receber!

O ano que agora termina foi, sem dúvida, o pior da minha vida.
Mas não o quero esquecer! Aliás, quero lembrar-me sempre destes momentos que passei para ter força para ultrapassar tudo o que virá!...

E, nas dezenas de noites em que adormeço a chorar, como ontem, como choro agora enquanto te escrevo, há sempre imagens que nos vêm à cabeça e nos dão essa força.
À minha cabeça vens tu... porque foste colega, foste vizinho, foste primo, foste amigo, foste irmão!
Foste e não tinhas que o ser... e se o foste por vontade própria é porque gostas de mim e dás valor à nossa amizade!

Por tudo isso... Obrigado Amigo!

Este ano perdi muita coisa (...) mas ganhei verdadeiros amigos!
Tu já lá estavas, continuas a estar e estarás sempre!

Não me envergonho de chorar... "um homem também chora quando assim tem que ser", não é verdade?
Mas preferia não chorar... conheces-me melhor que ninguém e sabes como é difícil para mim este momento!

(...)

Às vezes, quando estou convosco e sorrio por fora, tudo em mim chora por dentro.
È assim a vida... a vida que temos, não a que escolhemos!...

Que o ano de 2008 te sorria ainda mais e que a mim me traga algo melhor que 2007.

Desculpa se me alonguei mas só queria que percebesses como és, realmente, uma das pessoas mais importantes da minha vida! Conta sempre comigo...

Um grande abraço para ti mano,
Ricardo Rodrigues.

p.s.: (...) Guarda esta carta, daqui a 10 ou 20 anos ainda vai saber melhor quando a voltares a ler.
Puto, não te esqueças: sê feliz e faz os outros felizes!

>>>
Sei que onde quer que estejas, levaste-me contigo.
Sei que "nada nem ninguém nos irá separar".
Sei que foste feliz e fizeste os outros felizes.
Sei que, seja qual fôr esse lugar onde estás, é com certeza um lugar muito bonito.
E sei que quero um dia ir ter contigo. Para realizarmos todos os nossos sonhos.

Onde quer que estejas, olha por mim como olhaste aqui.
Onde quer que estejas, eu sinto-te aqui comigo.
Onde quer que estejas, eu falo-te todas as noites antes de adormecer.
Onde quer que estejas, dá-me forças para te dedicar tudo o que consiga alcançar na vida.
E onde quer que estejas, guarda um lugar para mim ao teu lado. Para realizarmos todos os nossos sonhos.

Amo-te, Meu Irmão.

domingo, 7 de dezembro de 2008

(Sem) Alegria de Viver


Peço desculpa mas não consigo escrever nada.
Peço desculpa a todos os que de vez em quando dão aqui uma vista de olhos.
Mas sobretudo peço desculpa a mim que não consigo reagir.


Hoje fui à missa. Eu que dizia categoricamente que nunca iria à missa.

Fui pelo João, como tudo o que me move neste momento.

Mas o que é a minha dor comparada à dos seus pais?...
O meu coração neste momento está com o João. Mas está para os pais deles.


Sinto-me sem alegria de viver.

Tenho saudades de ver aquele sorriso.
Saudades que ele me convide para ir beber café a Sesimbra.
Tantas saudades de ficarmos deitados na cama a conversar e acabar por chegar sempre às mesmas conclusões.
Saudades de tanta coisa.
Saudades dele.


Todos os dias adormeço a pensar em ti e agradeço-te o que fizeste por mim.
Quem me dera ter tido a oportunidade de escolher. Daria a minha vida por ti.
A vida foi tão cruel que nem me deixou ajudar-te!...

Um dia destes escrevo aqui mais qualquer coisa, hoje não tenho forças nem vontade.


Amo-te João. Amo-te Meu Irmão.

sábado, 29 de novembro de 2008

Força Meu Irmão!


Hoje não consigo expressar por palavras o que me vai na alma.

O João Carlos não merece o que está a passar.
Força, Meu Irmão!

Amo-te como amo o que de mais belo há na minha vida.

Sim, eu sei que tu sabes.

sábado, 8 de novembro de 2008

Velha Raposa


Volto aqui a escrever mais de um mês depois.

Admito que a minha prolongada ausência se deve em grande parte ao facto de o vício de jogar FM me consumir horas que jamais recuperarei na vida.

Mas hoje, acordei, olhei o Gui, liguei o computador e enquanto lavava a cara e me olhava no espelho pensei: "Hoje não vou limitar a minha existência a jogar FM".

Foi então que peguei no saco, pus lá para dentro o meu caderno do "Bob, o Construtor" juntamente com a minha única arma com que ataco a vida a que vulgarmente chamamos esferográfica. Mas é mais que isso, é o objecto que eu levaria para uma ilha deserta para não morrer de inconformismo. Com uma caneta na mão eu estaria sempre perto de tudo o que mais admiro no mundo: a minha capacidade de o contemplar.

Mas isso são contas de outro rosário. Continuando a minha atarefada manhã, achei que o saco estava demasiado vazio. Olhei em redor e nada que o enchesse. Até que vi aquilo que mais enche de tudo um lugar vazio: um livro.

Mas não era um livro qualquer. Aliás, para mim, poucos são aqueles que escrevem livros.
Um conjunto de páginas que relatam a história de uma determinada senhora durante um restrito período de tempo ao lado de um qualquer presidente de um clube de futebol não é, necessariamente, um livro. É algo fútil que alguém criou e ousou chamar de livro.

Agora, quando eu pego em algo que na capa indica como autor um tal de António Lobo Antunes, eu nem penso duas vezes: este senhor merece a minha confiança. Vou então ler "Cus de Judas", um livro de 1979.

Reparem: 1979! Este senhor escreve ao mais alto nível há trinta anos! Acho que merece a minha confiança, respeito, admiração e que, pelo menos por uma horinha durante o dia, esqueça o FM para o ler.

Não preciso que a Academia de Estocolmo que atribui os prémios Nobel imortalize Lobo Antunes. É que, pensem comigo, a tal Academia é constituída por seres humanos que são falíveis, pressionáveis e subjectivos como todos nós. Ou não acham estranho a quantidade de vezes que os Nobel são entregues a indivíduos dos países nórdicos? A prova do que vos falo é mesmo o Prémio Nobel da Paz deste ano. Palhaçada. Bem, mas já estou eu outra vez em contas de outro rosário.

Lobo Antunes é, após um capítulo do seu livro e dezenas das suas crónicas na "Visão", genial.
Sou um exagerado não sou? Têm razão, Lobo Antunes é só, vá, quase genial. Daqui a uns capítulos talvez o imortalize de genial.
Mas quem sou eu? Um simples humano, certo? Falível, influenciável e subjectivo.
Mas se não acreditam em mim, força, peguem num texto do homem e tirem as dúvidas.

Cada vez que leio as suas crónicas, seja sobre o papel das mulheres na sociedade ou sobre o seu Benfica (bolas, há sempre um senão nestes fantasiosos contos de fadas!) e quando acabo de ler fico com a ideia de que, efectivamente, aquilo é um texto com cabeça, tronco e membros: bem construído, bem escrito e com um perfume que dá um outro toque de classe só ao nível dos predestinados. É que fico sempre com aquele sorriso, levanto-me e penso "É isto!".

E depois alguém que veio aqui ao Sumo de Kiwi manda-me uma mensagem a elogiar-me: "Ricardo, gostei tanto daquele texto! Escreves tão bem!". Porra, parem com isso. Sinto-me gozado! Então não é que me dizem isto comigo a pensar naquele senhor? Deviam lê-lo no fim de "me" lerem... eu não vos levo a mal, é que eu próprio penso por vezes que escrevo bem, mas depois de ler Lobo Antunes, caio na real.

E foi, assim, à custa desta velha raposa a quem o destino se encarregou de apelidar de Lobo que o meu dia de hoje ganhou algum sentido. Li e vim aqui escrever alguma coisa.

Prometo que voltarei com mais regularidade a partir de agora.

p.s.: Da próxima vez que me quiserem dizer que escrevo bem, comprem a "Visão", leiam a crónica de António Lobo Antunes e em dez minutinhos perdem a vontade.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Paz & Liberdade: E Tu, Tens A Mania Que És Hippie?...



Ser hippie não é teres Bob Marley no ouvido e lutares por sonhos sem sentido.

Ser hippie não é tatuares Che Guevara sem saberes por que causas ele lutara.

Ser hippie não é andares descalço e vestires roupa que mais ninguém usa.
Ser hippie não é fumares ganzas e seres contra os USA.

Ser hippie não é praguejares contra a discriminação de qualquer raça se achas que dar pancada num preto tem graça.

Ser hippie não é usares óculos de sol gigantes e fazeres vénia aos Comandantes.

Ser hippie não é evocares um Sonho mas virares costas se contraponho.

Ser hippie não é andares despido para seres ouvido e dizeres que queres o mundo unido.

Ser hippie não é dizeres-te ambientalista se preferes matar animais para ser capa de revista.

Ser hippie não é veres a “Lista de Schindler” e chorar se nem sabes do que estamos a falar.

Ser hippie não é quereres o mundo na tua mão mas sim dares ao próximo o melhor do teu coração.

Ser hippie não é ires ao Avante em nome de um festival se nem sabes o que sofreu Álvaro Cunhal.

Ser hippie não é dares ao teu filho um nome diferente só porque não te consegues impor naturalmente.

Ser hippie não é usares pulseiras da amizade se não tiveres em ti essa vontade.

Ser hippie não é seres anormal para cair em graça mas seres racional para evitar nova desgraça.

Ser hippie não é ter uma colecção de All Star e mostra-las a toda a gente se foram feitas por crianças exploradas no médio oriente.

Ser hippie não é publicares fotos com efeitos do Photoshop se é com essas cenas que o teu cérebro se entope!

Ser hippie não é recitares poesia mágica se esqueces a miséria que há em África.

Ser hippie não é ter rastas na cabeça se as tuas convicções não são uma certeza.

Ser hippie não é teres a mania que és surfista se as futilidades te tapam a vista.

Ser hippie não é escreveres uma cena destas se depois mostrares que não prestas!...

Ser hippie é ter mais vontade. É ouvir outra verdade.
É lutar pela Paz e pela Liberdade individual e colectiva.

E tu, ainda tens a mania que és hippie?...



>>> Nome das personagens históricas que lutaram e/ou lutam pela Paz e Liberdade no mundo, pela ordem que aparecem na imagem (de cima para baixo, da esquerda para a direita):

sábado, 23 de agosto de 2008

Barreiras


É assim. Foi assim que a vida quis. Ela manda, eu respeito-a, obedeço-lhe, olho-a de frente, sorrio-lhe e avanço.

Podia estar agora, com toda a naturalidade, a escrever sobre um amigo que um dia tive. Um amigo com quem cresci, com quem aprendi algumas das coisas mais elementares e deliciosas da vida, alguém com quem passei alguns dos momentos mais divertidos da minha vida – das diagonais ao Treze -, alguém por quem me levantava da cama para o ajudar fosse a que hora fosse por que sei que ele faria o mesmo por mim.

Como diz a “velha escola”, por ele eu dava a minha camisola. Acreditem que há uns tempos atrás a loucura intrínseca à idade e os devaneios da imaturidade me levariam a dar a camisola por muita gente. Hoje não. E ele, esse grande amigo, continua a estar no lote daqueles por quem eu me sacrificaria. E nunca deixou de estar. Acredita mesmo amigo, nunca deixaste.

Por vezes, nas noites em que nos sentimos cansados e mortos mas não conseguimos dormir e a saudade nos ataca, chorei por pensar que a vida me tinha roubado tudo o que de mais bonito me tinha dado até ali. Chorei por pensar que não mais voltaríamos a partilhar pequenos (grandes) momentos que eram responsáveis por parte daquilo em que me tinha tornado.

E afastamo-nos, por momentos. E isso eu não deixarei que volte a acontecer. Mas não deixarei mesmo!

Por isso, quando me convidaste para aquele café em Torres Novas e para ir ver o nosso Sporting respondi, sem hesitar, sem sequer pestanejar, que sim. Era importante voltar a conviver contigo, falar e deixar as coisas claras valorizando sempre a amizade que sabíamos existir.

Quando viajei até à Altura este ano pensei muitas vezes em como as coisas eram anos antes. Era uma viagem que fazíamos juntos. Este ano demorei cerca de metade do tempo mas esta viagem não teve o mesmo significado. Pagaria tudo para ter voltado a fazer aquela viagem em 8 ou 9 horas com outras tantas paragens mas sempre com a representação e a pintura que nos marcam e deixam saudade. “Ah, a saudade… essa senhora maldita”, como me disse um dia uma amiga que me viu partir de Coimbra.
A saudade invadiu-me também quando estava deitado na areia a procurar diagonais, a jogar UNO, a ler o Record, a fazer a minha equipa da Liga Record, a jogar futebol, a comer bolas de Berlim… enfim, são todas estas pequenas (grandes) coisas que estão gravadas em mim como parte de ti e me tornam a pessoa que sou hoje.

Quando deste um passo importante na tua vida, eu fiquei muito feliz por ti. Como se fosse por mim. Marcando aqui um pequeno aparte, lembro-me que um dia, no verão do ano passado, a Joana Companheira estava em Londres e queria saber a nota dela no exame nacional de Geografia. Pediu-me e eu fui lá. Ela teve 18 e eu, assim que vi a nota dela, chorei de um orgulho e felicidade imensa. Foi ali que percebi que ela era uma grande parte de mim porque eu chorava e ria por ela como o faço por mim.
De ti, eu já não duvidava disso, mas cada passo importante teu é também um caminhar importante para mim que sigo ao teu lado.
Porque, para mim, a amizade é isto: estarmos lado a lado a sorrir e chorar uns pelos outros, sempre dispostos a dar a mão.

Como disse no início, poderia hoje estar a falar de um amigo que um dia tive. Não quero falar dos porquês, porque não interessam, pois o que realmente importa realçar é que escrevo hoje de um amigo que tenho. E que terei sempre.
Tenho a certeza, porque se soubemos ultrapassar estas barreiras, então não haverá nada no mundo que cesse a nossa forte ligação. Porque “seremos cúmplices o resto da vida”.

Por todos os momentos já vividos, por todas as palavras já ditas, por seres assim tão genuíno e importante na minha vida… Obrigado David.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O Único Local Do Mundo Onde Sinto Que Tudo Faz Sentido...


Fez na passada Quarta-Feira, dia 06 de Agosto de 2008, 5 anos que foi inaugurada a minha casa.

O Estádio José Alvalade XXI: o único local no mundo onde sinto que tudo faz sentido… onde o meu mundo pára, onde tudo é perfeito, onde tudo parece fazer sentido. Não, isto não é nenhuma carta de amor para uma rapariga. Mas é a minha perdição.

E a 06 de Agosto de 2003, vencemos por 3-1 o Manchester United.
Luís Filipe (!) marcou o primeiro golo a Fabien Barthez. João Pinto, o grande artista, bisou e Hugo fez um auto-golo, imitando Juca que havia feito o mesmo na inauguração do velhinho Estádio…
Cristiano Ronaldo fez o último jogo de leão ao peito.

Parabéns a todos os sportinguistas que amam este grande clube como eu.

p.s.: parabéns a Pedro Barbosa, o grande capitão, que comemorou 38 anos também na passada quarta-feira. Foi graças a ele que escolhi, quando jogava futsal, o número 8 para carregar nas costas. Obrigado por tudo.


Para ver o vídeo da inaguração do Estádio Alvalade XXI, clica aqui:

segunda-feira, 21 de julho de 2008

À Procura Do Fado


Eu sou um grande chato. Quase que podia ser militante do BE, como bem sugeriu a minha querida, quase conhecida, Cláudia Ferreira. Sou tão chato que gosto de chatear os meus amigos que dizem que o fado é chato. Como o Nuno Gomes, esta noite. Disse eu que no dia 09 de Agosto não ia dormir na casa que alugamos para aproveitarmos o sol algarvio porque ia ver a Ana Moura a Tavira. “Quem? O quê? Fado? És tonto!”, diz o Nuno com os risos do resto da malta por trás. E eles são tão tolos, mas tão tolos… se ouvissem, por dez minutos apenas a Ana Moura, a Amália, o Camané ou o Carlos do Carmo teriam que se render. Poderiam não gostar, mas teriam que lhes reconhecer um talento que a minha alma sente quando os ouço. “O fado é chato? Digam-me três músicas que conheçam!”. E eles calaram-se. Eles acham que o fado é chato porque sim. É chato porque sim! Isto faz sentido? O que faria sentido era pensarem (ou ouvirem) antes de falar. “Porque é que tens de ter resposta para tudo?”, pergunta a Vanessa. Porque eu, sim, sou um chato. Um grande chato. Agora o fado não.

E foi com muito agrado que acerca de 1 mês atrás recebi o convite da minha amiga Tânia Machado para ir ver um concerto da Ana Moura ao renovado Cine-Teatro de Alcanena no passado dia 11. Disse, sem hesitar, “sim”! A música que melhor conhecia de Ana Moura intitula-se “Fado da Procura” e eu delicio-me a ouvi-la. Um fado corrido onde Ana Moura pergunta “mas porque é que a gente não se encontra?”. Encontramos, pois, que eu não deixei escapar a oportunidade.

E assim, com o “Fado da Procura” na cabeça eu fui à procura do fado.

Entrei no novo Cine-Teatro de Alcanena e fiquei agradavelmente surpreendido. Um espaço acolhedor e bastante agradável, com excelentes condições para a realização de espectáculos de diversos tipos. Enquanto esperava que as luzes se apagassem e se fizesse silêncio, comentava com a Tânia que este tipo de salas tinham um efeito bastante positivo para noites de fado. Um efeito talvez até melhor que o Coliseu de Lisboa onde as dimensões da sala retiram a cumplicidade existente em salas mais pequenas, como a de Alcanena, onde os 300 lugares esgotaram para ver a fadista.

Apagam-se as luzes. Faz-se silêncio. Entram os guitarristas e, logo de seguida, Ana Moura.

Custódio Castelo dá então os primeiros acordes. Que beleza. Castelo dança ao som do seu próprio dedilhar. Castelo, que em 2004 foi dado como “inapto” para a vida de guitarrista devido a uma ruptura de ligamentos provocada pela calcificação dos ossos, traz-me momentaneamente à memória Carlos Paredes. Não que ouvisse Carlos Paredes, porque não ouvia, mas se Castelo toca assim, imagino como seria ver Paredes ao vivo.

Ana Moura vira-se de perfil para o público em sinal de respeito com a “Guitarra” que encara de frente e que começa a cantar. Mas eu estou encantado com Castelo. Custódio Castelo assim que foi dado como inapto, foi buscar a guitarra portuguesa, irrompeu pelo consultório do Dr. Brás Cardoso adentro e sentou-se. Tocou à sua frente e disse-lhe: “Eu faço isto, estou com muitas dores e na iminência de deixar de o fazer. Salve-me por favor”. O médico comoveu-se e decidiu abrir uma excepção: “Vai ficar a tocar ainda melhor”. E como toca Castelo… teria ficado ali a noite toda a ouvi-lo tocar, a vê-lo dançar e a tremer na cadeira cada vez que ele fechava os olhos. Aquele homem ama o que faz. E a guitarra ama-o. Uma delícia. Um chato também, este Castelo, que quis uma segunda vida de guitarrista. Mas que grande chato, não é?

E dança a Ana Moura. Dança carinhosamente enquanto canta “Sou do fado, Sou fadista”, “No Expectacions”, “Aconteceu”, “Rosa Cor de Rosa” ou “Mapa do Coração”. Ana Moura, nascida em Coruche, é portadora de uma voz fantástica, onde a rouquidão penetrante se confunde com os rompantes que arrancam os habituais “ah fadista” vindos do público. Casava-me só com a sua voz. E os meus olhos brilham cada vez mais. A Tânia já só olha para mim a tentar perceber porque tenho aquele sorriso estúpido no rosto ao mesmo tempo que danço na cadeira. Porque sou um chato, Tânia. Um grande chato.

Enquanto Castelo volta a tocar sem a voz de Ana Moura, esta bebe um cálice e conversa com o público, alcançando, naquele momento, a cumplicidade que eu gosto nas noites de fado. O público pede então que cante “Búzios” e Ana Moura faz levantar a sala. Que maravilha… a que profundezas foi o mundo buscar esta voz de deusa? Encontro-me, à altura, simplesmente enchanté.

Ana Moura despede-se então do público. Este não arreda pé e só volta a sentar-se quando a Ribatejana volta ao palco. Volta para pôr 300 pessoas a cantarolar os famosos versos de Carlos Ramos onde este exalta o fado, aconselhando o povo num explícito “Canto o Fado”. Lucília do Carmo também é recordada num “Fado Loucura” e a noite termina novamente com “Búzios” mas agora com toda a sala a cantar num murmúrio absolutamente deleitoso. E Ana Moura deixa-me com água na boca, de tal forma que não quero ficar por aquela hora e meia e já tenho os bilhetes para mais uma noite inesquecível. É uma chata, ela. Uma grande chata.

Percebo agora porque foi Ana Moura escolhida pelos Rollings Stones para integrar o projecto musical levado a cabo pela banda norte-americana que culminou com um concerto no Estádio Alvalade XXI em Junho de 2007. Não foi por acaso. Tim Ries também deve ser chato. Um grande chato.

E olha, Ana, dia 09 de Agosto lá estou eu em Tavira para te voltar a ver. Prefiro pagar 10€ para te ir ver dançar e cantar com um xaile preto aos ombros e três velhotes à tua volta com uma guitarra nas mãos, do que gastar os mesmos 10€ numa qualquer discoteca algarvia onde as turistas se exibem, não com o xaile preto, mas com tecido a menos, para os meus amigos que me gozam por te ouvir.

Mas isso sou eu, Ana, que sou um chato. Um grande chato.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mudança


Aos poucos sinto a minha vida a mudar. Finalmente parece ganhar os contornos com que sempre sonhei. Inesperadamente as coisas começam a aparecer. Mas não caem do céu, eu luto diariamente por elas. E começo a acreditar na “lei” de que quem luta sempre consegue alcançar os seus objectivos/sonhos.

Desde pequenino que sonhava morar em Lisboa. O Tejo… quem ama Lisboa sabe do que eu falo, o Tejo tem um brilho que mais nenhum rio tem; os bairros típicos de Lisboa têm um aroma diferente; e o movimento, a vida que existe, faz-nos sonhar a toda a hora.

O ano passado, neste mesmo dia, comemoravam-se as 7 maravilhas do mundo. Lembro-me perfeitamente onde passei esse dia: acordei às 6h nesse sábado e durante toda a manhã fui trabalhar. Dormi a tarde toda, tentava descansar as pernas doridas do esforço da semana e o cérebro que parecia poder entrar em colapso no minuto seguinte. Acordei novamente por volta das 18h e fui escrever um poema, para matar as saudades que tinha do meu primo. Um primo que amo como um filho e que a estupidez humana me impediu de ver no dia 10 de Junho, o dia do seu próprio aniversário. O João Paulo não sabia e, na inocência dos seus frescos 9 anos, perguntou-me porque não o ia ver no dia do seu aniversário. Eu disse que tinha que trabalhar. Mas não. Simplesmente as únicas pessoas que me podiam dar a felicidade de o ver, tinham-me negado essa possibilidade. Isso eu não esqueço. Nunca. Como não esqueço o fim de tarde do dia 07 de Julho de 2007: enquanto escrevia sobre o João Paulo as lágrimas corriam-me desenfreadamente pelo rosto. Lembro-me que usei um rolo inteiro de papel higiénico para limpar as lágrimas. Um rolo inteiro. Subitamente, começo a ouvir uns passos fortes e pesados a subir em direcção ao meu quarto. Enquanto limpo atrapalhadamente as lágrimas alguém abriu a porta e me perguntou: “o que se passa?”. Eu respondi “nada!” mas apetecia-me responder “tu sabes bem o que se passa!”.
Nessa noite lembro-me de olhar o tecto do meu quarto em busca do melhor ponto para acabar com aquele sofrimento. Durante cerca de uma hora fiz cálculos a tentar perceber se o candeeiro aguentava com o meu peso. É verdade, eu estava a entrar em paranóia.

Não quis acreditar quando não entrei na faculdade em Lisboa por apenas 1 décima. “Parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar” era só o que me vinha à cabeça! Mas teria Rui Veloso razão? Eu sabia que não, porque eu sei do que sou feito. Sei que tenho em mim uma força de alma enorme que pode conquistar o mundo… eu arrisquei a minha vida, o meu futuro mas queria mostrar a toda a gente que era capaz de atingir os meus objectivos.
Sei que um dia vou lá estar, no alto, e vou olhar para todos com a mesma humildade e olhar inocente que olho agora que estou cá em baixo. Sei que serei grande.

E hoje a minha vida deu mais um passo nessa mudança de que vos falo. O meu futuro, tudo o que eu tinha chorado durante um ano, tudo o que eu possa sonhar, estava dependente de 1 de 2 números que eu ia ver em breve. Sabia que o exame de português me tinha corrido mal, por isso, e para criar mais emoção ao meu próprio coração, vi essa nota primeiro: 13. Então lembro-me que parei 10 segundos e pensei “bem Ricardo, a tua vida vai mudar consoante o número que estiver ali ao lado”… era um 18.
E eu comecei imediatamente a chorar. Chorei de alegria. Chorei de orgulho. Chorei de raiva. Chorei de vingança. Tinha aquelas lágrimas contidas desde o anoitecer do dia 19 de Outubro de 2007. E tenho mais. Muitas mais que hei-de libertar a seu tempo.

Lembro-me de ligar o meu ipod para ouvir propositadamente uma música: Walk On, dos U2. Tem um significado inestimável para mim. Saí da escola a sorrir enquanto os óculos escuros me tapavam as lágrimas que teimava em não deixar fugir pelo rosto. Sentei-me na escadaria da igreja que dá de frente com o Liceu Passos Manuel e então libertei as amarras a essas lágrimas… enquanto ouvi aquela música, chorei desalmadamente e ia pensando em tudo o que tinha sido o último ano da minha vida.

Então depois comecei a dizer às pessoas que faziam figas por mim. Primeiro o meu irmão, depois a Joana, a Leonilde e a minha mãe. E por aí fora.

Hoje senti a minha vida a mudar.
Esperem por mim para um dia verem onde vou chegar. Eu tenho coração, talento, alma e força.
E um dia terei sorte. Tenho tudo.

Hoje dei uma chapada de luva branca a muita gente.
Mas aqueles que me querem bem, dei um presente do tamanho do mundo.

Obrigado…

• À minha Mãe com quem chorei tanto abraçados no meu quarto;

Ao meu irmão André que ao longo de toda a vida tem sido um exemplo para mim e que jamais me abandonou;
• Ao Gui, que sem o saber foi a razão de eu sorrir em tantas noites da minha vida… é o meu filho;
• Aos meus tios Hermínia e Vítor que foram meus pais quando eu precisei, como continuo a precisar;
• À minha prima Sílvia que me dá a mão a toda a hora para que eu nunca tenha a tentação de cair;
• À Joana (Companheira) e ao João Carlos que eu amo como se amam dois irmãos;
• À Ti Nanda, ao Cesário e à Patrícia que, mesmo quando o azar lhes bateu à porta, tiveram sempre algo mais para me oferecer;
• Aos meus pequeninos, o Manel e o João Paulo, que me devolvem a alegria de viver só de os ver sorrir. E isso foi, e é, inexplicavelmente importante na minha vida;
• À Sofia, uma amiga sobre a qual tenho dificuldade em escrever, devido ao carinho enorme que tenho por ela. Ela chorou comigo. Ela apoiou-me sempre.
• Ao Tavares com quem posso confiar e partilhar as minhas lágrimas;
• À Carolina, à Susana, à Marta, ao Luís André, ao Rui Flora, ao Jorge, à Sofia Frazão, à Filipa Pedro e à Inês, que tiveram sempre, mas sempre, uma palavra para mim;

• Ao David que me mostrou como a amizade pode ultrapassar todas as barreiras;
• À Núria que se revelou uma pessoa incrivelmente bonita na hora em que mais precisei;

• Às professoras Leonilde e Cristina, duas mulheres que jamais esquecerei. Obrigada por todas as palavras.
• À Nini, à Raquel, à Marta e ao Ricardo, o melhor que guardo de Coimbra.

• A todos aqueles que me fizeram dar um passo atrás na vida, porque sem eles isto não me daria tanto gozo…

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Verde


É vida.
Paixão colorida que percorre os meus sonhos de criança.
Continuo nesta andança como se fosse uma dança.

Mas não é.
É bailado.
Apaixonado.
Por vezes roça a loucura.
Mas que doçura…

É um encontro do paraíso com o inferno.
Do afecto paternal com o peito materno.
É um querer eterno.

É esperança também.
E eu sei esperar como ninguém.
Se a minha esperança em ti morrer, nada mais me poderá acontecer.

É o meu céu, o meu rio, a minha chama.
O meu sangue.

Porque verde não é cor.
Verde é amor.



p.s.: esta é uma dedicatória ao meu grande amor, que hoje celebrou 102 anos. A ti, meu Sporting.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Fernando, uma genial Pessoa


Fernando António Nogueira Pessoa. Se fosse vivo faria hoje 120 anos. Mas não, Fernando, a pessoa, deixou-nos ainda bem cedo, em Novembro de 1935. Cedo, muito cedo para quem pegava nas palavras como ele e as transformava no que de mais belo o universo nos pode contemplar. Mas, Camões se revire no caixão, Fernando, o génio, jamais nos deixará para bem dos nossos pecados e para mal de Camões, caso quisesse todo o protagonismo só para si.

Disse então um dia o jovem Pessoa que mais tarde, se quisessem fazer a sua biografia, nada mais simples do que resumi-la às datas do seu nascimento e da sua morte – tudo o resto lhe pertencia apenas a ele. Desculpa, amigo, estás enganado. Digo de ti o que um dia Salazar disse na cara de Eusébio: “És património nacional”. Assim sendo, tudo o que fizeste, sonhaste, pensaste, escreveste e viveste, é de todo um país que apresenta em figuras como tu o expoente máximo da soberba lusitana. Talvez hoje sejas o mais próximo que temos do teu tão desejado “Quinto Império”.

Foste tudo. Quiseste ser tudo. Irás ser sempre tudo. Por causa disso, farei sempre uma vénia cada vez que passar por ti, ali no Chiado.

Era estranho ouvir o meu irmão passear pela casa a cantar os teus poemas mas era tão estranho e, simultaneamente, tão envolvente que também comecei a sentir-me tentado a entrar no teu mundo. Hoje e sempre irei procurar conhecer mais a tua obra. Porque é maravilhosa. Enquanto digo isto Camões revira-se novamente no caixão, mas calma Luís… diz lá a verdade, se tivesses tido o prazer de apreciar o legado de Pessoa, não concordarias também que é maravilhoso?...

Ninguém sabe ao certo quem era Pessoa… um louco ou um génio? Um talento ou um atrevido? Enigmático ou fingidor? Isso nunca ninguém conseguirá definir, pois nem o próprio conseguia definir o seu “eu” que sempre se encontrou fragmentado. Mas, por assim ser, tornou-se incontornável ao ponto de ser equiparado com Pablo Neruda como “o melhor escritor do século XX”, pelo crítico literário Horald Bloom. Por isso, merecia que hoje fosse o seu dia.

Para a eternidade ficam poemas como “Tabacaria” (Álvaro de Campos), “Mar Português”, “O Infante”, “O Quinto Império”, “O Mostrengo” ou “Nevoeiro” (Fernando Pessoa), entre muitos, muitos outros.

“I know not what tomorrow will bring…”. Nem tu, nem eu, nem sequer o Camões sabe. Ninguém sabe e porque amanhã é sempre tarde demais, aqui fica, hoje, a homenagem.

A Fernando Pessoa.


p.s.: É também uma homenagem aos génios que contemporizaram com Pessoa: José de Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro, Amadeo de Souza Cardozo e Santa-Rita pintor.
p.s.: Faz hoje, também, 50 anos que faleceu outro grande artista português: Vasco Santana. Uma saudação especial.