quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fim

Acabou.

Sim, vou deixar de fazer Sumo de Kiwi.
Este é o meu último texto. Vou escrevê-lo sem fazer correcções: o que sair é o que fica. E sinto que vai ficar enorme.

Existem algumas razões para decidir deixar de escrever aqui: em primeiro lugar porque as realidades informáticas alteraram-se, ou seja, se dantes eu escrevia as minhas notas, pensamentos e textos aqui, actualmente divido isso entre o Facebook e os jornais onde vou escrevendo, actualmente n’ “O Torrejano”; em segundo lugar porque pretendo alocar o tempo que perdia a organizar o blog (ultimamente muito pouco) noutras prioridades, nomeadamente num projecto pessoal que tenho desenvolvido lentamente mas que aparecerá; em terceiro lugar porque, na verdade, duvido que alguém leia isto sem ser por caridade.

Quando comecei a escrever aqui fi-lo porque, na altura, precisava, de algum modo, de me sentir útil. A minha vida estava, como muitos dos que leiem isto sabem, num marasmo em que todos os sentidos davam a becos sem saída.Levei muita pancada (metaforicamente falando) e sobrevivi. Encontrei novos rumos e neste momento, mais tarde do que alguma vez imaginei, sei que vou conseguir.


Desde 2007 que atravesso a fase mais difícil da minha vida. Parece que acabar o curso é pouco mais que uma miragem. Ter comigo as chaves de 3 ou 4 casas mas não poder chamar “lar” a nenhuma delas é muito mais doloroso do que alguma vez imaginei. Se alguma vez chorei? Chorei muito e hei-de chorar mais. Mas hei-de conseguir. Vocês sabem o que hei-de conseguir.


Porque tenho em mim algo que, por mais portas e janelas que me tenham fechado, nunca me tiraram: a minha liberdade e a minha honra.
A liberdade de pensar. De sonhar. De imaginar. Foi isso que, juntando a outras coisas, nunca me fizeram desistir. Quando, por vezes, ficava à noite abraçado ao Gui num recanto escuro e chorava em silêncio para ninguém ouvir a única coisa que me era permitido fazer sem ser castrado era pensar. É por isso que gosto tanto de pensar. Penso o que eu quiser. Sou o que quiser. E armo bases para que nunca ninguém se esqueça que eu existo.


Pensem. Sonhem. Porque quando perderem isso, perdem a vossa identidade. Deixam de existir.


Quando comecei a escrever já tinha saído de casa nas circunstâncias que muitos de vós sabem.
Neste entretanto, perdi o João.
Já alguma vez acordaram de um sonho em que parece que estão a cair de um prédio e não há terreno firme para pisarem? Essa é a denominada sensação de chão a fugir dos pés.
Agora imaginem o que é sentir isso. Sem ser a sonhar. Sentir isso bem acordados.
Eu senti. Não queiram sentir.


A morte do João naquela altura foi como estar num ringue de boxe prestes a perder e quando me tento levantar do chão levo um soco que me deixa KO.
No dia em que vi o João na cama do hospital soube que ele ia morrer. Saí do quarto completamente alucinado. Lembro-me de bater com a cabeça numa janela do Hospital de Santa Maria e de alguém me tentar agarrar antes de cair desamparado no chão a chorar como se me tivessem tirado, precisamente, o chão que piso.


Se essa dor já passou? Não. Claro que não.
Nem nunca vai passar. Perder assim o nosso melhor amigo é uma doença crónica.

Há uns dias disse a alguém que “posso um dia conseguir tudo o que uma pessoa deseja, tudo o que se possa imaginar mas faltar-me-á sempre o João”. Isso impede-me de ser plenamente feliz. É impossível adormecer sem pensar no João.
Mas não, não tenham pena de mim. Eu não quero pena.
Quero que pensem como os vossos amigos são importantes, quero que vivam todos os dias dando graças de poder estar com eles, quero que cheguem ao pé dos vossos amigos, dos vossos pais, de quem vos é importante e não tenham medo de lhes dar um abraço e dizer “amo-te”.


Não tenham medo nem vergonha.
Acreditem, porque eu já aprendi, que essa é a maior riqueza que temos na vida.
Eu dava tudo, tudo mesmo, para poder por mais uma única vez ver o sorriso do João, dar-lhe um abraço e dizer-lhe “amo-te puto”.


Mas, embora não acredite na vida depois da morte, tenho esperança que exista. É irónico que a minha maior esperança seja algo em que categoricamente não acredito. Quero voltar a estar com ele.


Há pessoas a quem ainda posso fazer isso.
A minha mãe é, indubitavelmente, a pessoa mais importante a quem ainda posso dizer “amo-te”. Se eu sofri nestes 4 anos, ela sofreu ainda mais. Se eu chorei, ela chorou a dobrar. Se eu lutei, ela lutou sem ter forças. Devo-lhe mais do que aquilo que algum dia conseguirei dizer.

Sei que parece um lugar comum, mas no meu caso dizer que a minha mãe é a melhor do mundo ganha um significado extra. Torna-se mais profundo.


Tenho um orgulho imenso na minha mãe.


Há uma coisa que nunca vou poder fazer: julgá-la. E quem, por fora, o faz, não sabe do que fala. Não sabe sequer o que é sobreviver como ela sobreviveu. Não sabe nada e por isso não merece sequer que me digne a perder o meu tempo.


Tenho uma sorte dos diabos por ter nascido com esta virtude de saber ver, a tempo e horas, quem merece o meu amor. Apercebi-me disso com o João e faço-o com a minha mãe.
Amem. Digam que amam. Cheguem a casa e dêem uma flor à vossa mãe. Um dia vão querer dá-la e não podem. Dêem-lhe um beijo na testa em sinal de carinho e ternura. Fiquem em casa, à noite, a fazer-lhe companhia.
Acreditem, porque eu já aprendi, que não se vão arrepender.


Não tenham medo de beijar em público quem amam. De lhe agarrarem na mão, estando de joelhos, num sítio longíquo de todas as proibições e constrangimentos, de olharem nos olhos e dizerem “amo-te”.


Esse sítio de que vos falo é na vossa mente. Libertem-se.
Acreditem, porque eu já aprendi, que é a sensação mais reconfortante que podem ter.


Continuo a ver no meu irmão um exemplo.
Sei que, sem o exemplo que ele sempre me transmitiu, eu provavelmente teria descarrilado e seria hoje uma pessoa esquecida, frustrada e revoltada comigo próprio.
Ganhar-lhe um jogo de Trivial continua a ser o desafio da minha vida. Mas não é por aí que ele é um exemplo. Ou melhor, é por aí também mas é mais pela força que ele sempre teve.


Vou contar-vos uma pequena história. O meu irmão teve um professor no 8º ano (onde ninguém marca a diferença, basicamente aos 13 anos todos os putos são parvos). 12 anos depois, num gabinete da Escola Secundária, eu estava numa contagem de votos para a Associação de Estudantes e o tal professor, para pôr conversa, pergunta-me de onde sou. Eu respondo-lhe que sou da Gouxaria e ele diz-me, num ar descontraído e enquanto analisa as listas de votantes, “ai é? Então e conhece lá um rapaz que é o André Filipe?”. Eu disse-lhe que sim, que é meu irmão. Para meu assombro, o professor parou o que estava a fazer e com o ar mais sério que lhe vi naquela noite coloca os óculos na ponta do nariz, olha-me por cima deles e diz-me: “você é irmão do André? Sabe uma coisa: o seu irmão foi o melhor aluno que passou por esta escola”.


Quando um professor diz isto, 12 anos depois, não se refere ao facto de um aluno do 8º ano gostar de ler e escrever. Para ainda se recordar dele assim é porque o marcou de uma forma muito mais profunda: enquanto homem. E quando uma pessoa com 13 anos marca um adulto desta forma, está destinado ao sucesso.


Felizmente encontrou-o. Não “graças a Deus” que eu cá odeio essa expressão. Foi graças a ele.


O Gui partiu também. Sei que por vezes parece exagerado o amor que tenho por ele.
Não é. A minha vida foi, em certos períodos, demasiado sofredora para que eu hoje ignore o que sentia quando chegava à noite e ele era o único amigo que tinha, o único conforto. Eu sei que ele me percebia, não duvidem. Sei que me olhava e se agachava em mim como quem quer dar um abraço.


Sei que ele será sempre na minha vida muito mais que uma memória longíqua, muito mais que um parágrafo num blog ou muito mais que dois caracteres chineses tatuados nas minhas costas.
É um amigo. É alguém de quem tenho imensas saudades.

Outras pessoas marcaram e continuam a marcar a minha vida.
Não vou falar tão pormenorizadamente mas quero deixar o devido obrigado a essas pessoas, muitas das quais já mencionadas no post Mudança, de 8 de Julho de 2008:


- aos meus avós maternos, em especial à minha avó, por todo o legado que me deixaram;
- à Ti Mina e ao Titó que foram muitas vezes meus pais e pelos quais terei sempre um carinho proporcional à dívida que nunca lhes conseguirei pagar pois fizeram por mim algo que nunca imaginei que fosse possível;
- à minha prima Sílvia que me dá a mão a toda a hora para que eu não tenha a tentação de cair;
- à Joana (Companheira) que eu continuo a amar como se ama uma irmã;
- à Ti Nanda, ao Cesário e à Patrícia que, mesmo com todos os azares, tiveram sempre algo para me oferecer: principalmente um conselho, uma mão amiga ou uma força que não nos deixa desistir;
- ao Manel e ao João Paulinho que continuam a fazer-me sorrir só de sorrirem;
- à Carlota que, inexplicavelmente, deu uma luz nova à minha vida. Vê-la sorrir torna tudo tão mais simples;
- ao Carlos que sempre se ofereceu para me proteger e eleva para lá de primo a condição que nos une;
- aos pais do João onde encontrei duas pessoas incrivelmente prestáveis e amigas com as quais terei eternamente uma ligação familiar;
- à Beta e à Cristina, também, porque, de formas diferentes, sabem sempre como me confortar o espiríto;
- à Sofia que, muito embora o tempo e a vida nos tenha levado para rumos distantes, continuo a ter por ela um carinho enorme que distância nenhuma conseguirá alguma vez apagar;
- ao Fábio, ao Filipe, à Ânia, à Mariana, à Sofia Raquel, à Tanixa, à Teles, à Núria, à Carolina, à Susana, à Marta, ao Jorge, à Sofia Frazão, à Solange, à Filipa Pedro, à Petxa, à Rita Vieira e à Inês, que tiveram, e muitos continuam a ter, uma importância extrema na minha vida;
- ao David que me mostrou como se podem ultrapassar todas as barreiras e como a verdadeira amizade sobrevive sempre;
- às professoras Leonilde e Cristina, duas mulheres que não consigo esquecer e ao professor Sérgio que, hoje reconheço, incutiu em mim valores importantíssimos;
- ao Ricardo, à Raquel, à Nini e à Marta, o melhor que ainda hoje guardo de Coimbra.
- ao Tiago, que tem valores indescritivéis como ser humano e uma das pessoas que mais orgulho tenho em conhecer;
- ao Tavares que, após estes anos todos, continua a ser um bom amigo no qual posso sempre confiar;

- à Daniela, que se revelou uma pessoa extraordinária e sem a qual a minha vida já não seria igual;
- ao Luís André, ao Nuno Miguel e ao Rui Flora, três amigos para além da condição que essa palavra oferece. Encontrá-los, em qualquer altura da minha vida, faz-me sempre lembrar dos melhores momentos da minha vida. Ao Rui, destaco também, o exemplo que ele é enquanto pessoa;
- à Rita porque será sempre um motivo de alegria na minha vida. Imagino-me daqui a 20 anos, ambos adultos com vida própria, e ainda a dizer piadas parvas um ao outro. O sorriso daquela míuda e a relação que tenho com ela não tem preço;
- à Diana, que será sempre a minha eterna namorada;
- ao Francisco e à Matilde. Não encontro palavras que justifiquem o que é estar com aqueles meninos. Um dia que saia de Lisboa, eles serão provavelmente a melhor recordação que levo;
- a todos aqueles que me têm dado a mão nestes anos e que eu não mencionei por puro lapso.




Nestes 3 anos, 3 meses e 10 dias escrevi sobre muita coisa. Principalmente sobre o que mais gosto. Não apagarei essas memórias até porque posso, mais tarde, acrescentar algum post.
Falei-vos de Fernando Pessoa, Sporting, Fado, Paz, Liberdade, Literatura, Amor, Música, Amizade, Arte, Cinema, Religião, U2, Bruno Aleixo, Maradona, Princesa Diana, Aung San Suu Kyi, Nelson Mandela, Memórias, História, Política, Sociedade, Economia, Desporto ou simplesmente sobre a minha vida. Existem outras que vos falei menos ou nem sequer mencionei mas que fazem parte de mim de uma forma ou de outra. A Gouxaria, e o Boomerang em particular, são coisas que me deixam saudades.



Isto é o que eu penso.
E eu sou aquilo que penso. Serei sempre.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Efemérides

Existem dois factos históricos que se comemoram hoje que, pelo facto de me sentir identificado com os seus protagonistas, me sinto na tentação de lembrar, aqui, no Sumo de Kiwi.

Em primeiro lugar, e porque não poderia deixar de ser, faz hoje 105 anos que nasceu aquele que é o meu clube do coração e um dos meus grandes amores na vida: o Sporting Clube de Portugal.

Deixo aqui um pequeno excerto de um dos melhores filmes portugueses de sempre, 'O Leão da Estrela', em que António Silva e Artur Agostinho (um leão que se despediu de nós este ano) evocam o orgulho que é ser-se sportinguista.

"Dê cá a sua mão, se é leão é um homem de bem!".






Por último, sinto-me na liberdade de destacar uma das mulheres que mais aprecio na vida.
Talvez seja, a par de Aung San Suu Kyi, a mulher (mediática) que mais admiro: pela sua forma de viver, pela sua entrega aos outros, pela sua dedicação à causa social, pela sua coragem em ir contra poderes instalados, pela sua morte trágica, pela sua beleza inigualável.

Sim, eu acho-a mesmo uma das mulheres mais bonitas de sempre.

Se fosse viva, a Princesa Diana de Gales faria hoje 50 anos.
Infelizmente, faleceu com apenas 36 anos de idade, a 31 de Agosto de 1997.

Deixo, também, um vídeo de tributo à Princesa do Povo com a voz inigualável de Elton John interpretando "Candle in the Wind", tema que alterou propositadamente e cantou no funeral da malograda Princesa, em que destaco estes versos que espelham que Diana permanecerá eternamente viva para além da morte.

"Your candle burned out long before / Your legend ever did"
(A sua vela queimou-se muito antes / Da sua lenda se apagar).


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sumo de Kiwi III


Pois é, o Sumo de Kiwi completa hoje 3 anos.

A quem ainda tem coragem e paciência para aqui vir de vez em quando a pensar "é desta que ele escreveu alguma coisa interessante" e depois se depara com textos medianos, os meus parabéns!

São pessoas de valor.

Aos outros que deixaram de vir ou nunca vieram... hein, não perdem grande coisa!

Mesmo assim, acho que o Sumo de Kiwi merece os Parabéns!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Dia D



Fez ontem 67 anos que se deu o Desembarque da Normandia em que os Aliados, sob o comando dos EUA, derrotaram as tropas Nazis e iniciaram assim um processo que culminaria com o fim da II Guerra Mundial.

Uma história deliciosa que vale a pena conhecer.

E, mais uma vez, os EUA na linha da frente lutando pela verdadeira democracia e liberdade.

Heróis.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tudo Bons Rapazes

Ontem fiquei perplexo, como todos vós com certeza, ao ver cenas deprimentes em que uma série de jovens espancou uma rapariga de 14 anos na cidade de Lisboa.


Não posso acrescentar muito mais a isso do que aquilo que escrevi no dia 26 de Março de 2010 no extinto 'Pau de Dois Bicos' e que deixo hoje aqui para que possam ler (ou reler).


Apesar de o caso ser outro, o contexto é semelhante e a minha análise não podia continuar mais actual.




"O mundo atravessa, actualmente, um contexto social preocupante. Isso parece-me óbvio e a questão ganha, em Portugal, contornos agravados. Nos últimos trinta anos têm crescido em Portugal gerações contínuas de bons rapazes que procuram sempre o caminho mais fácil, mediocrizando os seus objectivos e recostando-se ao trabalho dos outros. Impera sempre a lei do “desenrascar”, do “amigo que deve um favor” ou do “lixar o parceiro”, como se diz na gíria popular.

Tudo isso tem uma base e, no nosso país, todos os sonhos de uma nação desenvolvida e cívica são arruinados à partida quando a base está frágil e dá sinais de podridão. Essa base, entendam, está na educação. A educação em Portugal é, globalmente, fraca. Não vos falo de maus professores, falo-vos de maus formadores que são conceitos distintos.
Mas, é preciso deixar claro, a educação não está apenas nas escolas: há maus formadores na escola e em casa.

Como escrevi há uns três anos no Soma & Segue, jamais me atreveria a insultar ou agredir um professor. Não que seja melhor que os calões e coitadinhos que a sociedade desculpa e contempla no seu formato de democracia exacerbada que nos tem roubado os valores de Abril, romantismos à parte. Estes rapazes são pessoas sem formação que em pequenos parecem inofensivos e que não lhes são incutidos valores básicos: hoje não se castiga porque o menino é engraçado, porque ele não fez por mal ou porque a professora é que embirra com ele; amanhã é tarde demais porque, o outrora menino, vive agora à custa de subsídios alimentados pelo trabalho daqueles que sempre se empenharam em ser reconhecidos pelo seu mérito, porque assalta e mata sem escrúpulos e anda à solta, porque destrói o contexto de sociedade harmonizada.
São tudo bons rapazes. Até ao dia em que deixam de o ser.

Eu teria sido igual a eles, não duvido. Mas não fui porque tenho valores que me foram incutidos na escola e em casa. Eu sabia que teria uma punição quando errasse: quando há crime, tem de haver castigo. Isso é rudimentar e não é preciso ler Dostoiévski para incutir ao próximo.

Esta crise de valores aguda agrava-se de geração para geração e o mais preocupante é que todos sopram para o lado fingindo não entender que o problema está ali, como um vírus mortal, e cresce ao nosso redor. É preciso entender o que se está a passar, sem dramatizar, e atacar a raiz do problema.
Acreditem: o que se passa actualmente é um vírus mortal que tem exterminado a nossa sociedade e os seus valores fundamentais.

A semana passada o país acordou para uma realidade que fingia não existir: os bons rapazes que nós aceitamos na nossa sociedade destruíram uma família em Mirandela e o medo que provocam numa criança inocente levou-a a, imaginem o desespero, num frio arrasador, despir-se todo e mergulhar nas águas geladas do Rio Tua. O Leandro era uma criança. Inocente, por sinal.

Onde estão os culpados neste momento?! Onde estão os formadores, e não professores, da Escola onde o Leandro estudava?! A justiça não castiga e há uma sensação de impunidade incutida no espírito do vilão que o leva a fazer o mal e ainda se ficar a rir disso.

Em Mirandela, há uma família destruída com os sonhos arrasados e que terá de viver com um fardo muito pesado para o resto da vida. A morte de um filho é uma doença crónica. Mas também em Mirandela, há um conjunto de miúdos que arruinaram essa família, que conscientemente e simplesmente por puro divertimento humilhavam e ameaçavam todos os dias o Leandro, mas que a justiça vai deixar passar impune.

Não alinho na ideologia barata que os psicólogos vendem de que existe em Portugal um bullying desmedido. É uma invenção. Entramos, com estas teorias, num exagero néscio que qualquer dia um miúdo, depois de cortar o cabelo, leva três “caldunços” de um colega e é caracterizado como vítima de bullying.
Li há dias uma entrevista de António Coimbra de Matos, reconhecido na área da psiquiatria e ex-professor na Faculdade de Psicologia de Lisboa e no ISPA, à revista Sábado em que ele dizia que “a anorexia não existe, é uma doença criada pelos psiquiatras e psicólogos que vivem à custa disso. O problema são as depressões”. Concordo, e defendo esta teoria há muitos anos. E penso o mesmo em relação ao bullying.

Quem matou o Leandro não foi o bullying. Foi a sociedade
."

quarta-feira, 23 de março de 2011

Já Lá Vem Outro Carreiro *


Gosto de política mas não me colo a opções partidárias.

O que aconteceu hoje foi o culminar de uma sede pelo poder tão descarada que só a ceguez do povo impede de descortinar.

Porque o povo quer é sangue, porque acredita sempre que o melhor está para vir.
Eu não acredito.

José Sócrates tinha muitos defeitos e muitas das suas políticas foram erradas.
Talvez não seja o Primeiro-Ministro ideal.

Mas só de imaginar que se lhe seguem Passos Coelho com o seu triunvirato de "Miguéis" (Relvas, Macedo e Frasquilho) sempre bem acompanhados pela reputação dos mesmos do costume (Catroga e Ferreira Leite) e que, caso não vença as eleições com maioria absoluta se aliará ao CDS do "inesgotável" Portas mais os seus amigos betinhos (como os anos passam e as coisas continuam iguais, já viram?) até tremo.

Como li há dias: "mudam as moscas mas a Mer...kel é a mesma!".

[* o título do post "Já lá vem outro carreiro" é um dos versos da música de José Mário Branco "A Formiga no Carreiro".]

O Leão Artur



Uma saudação muito especial a um homem que é um ícone em Portugal nas mais diversas áreas.

Jamais me esquecerei do seu papel como motorista de Anastácio (António Silva) num dos meus filmes preferidos de sempre: O Leão da Estrela.

Perdeu-se um grande homem cuja primeira imagem que recordo ao pensar em si é aquele sorriso enorme e contagiante tal como o seu talento que gravou com tinta de ouro na literatura, na representação, na televisão mas, sobretudo, na rádio e na imprensa escrita.

Dizemos adeus, também, a um grande sportinguista que relatou o golo de João Morais que deu a Taça das Taças ao Sporting em 1964.

Um até já, Artur.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ele É Um Bom Companheiro


"E com um brilhozinho nos olhos
Tentamos saber
Para lá do que muito se amou:

Quem éramos nós
Quem queríamos ser
E quais as esperanças
Que a vida roubou! […]
Com um brilhozinho nos olhos
Guardei um amigo
Que é coisa que vale milhões!"


*[porque Amigos como tu não se esquecem, guardam-se por serem tão preciosos e raros.
Não importa quanto tempo dura, importa o que se fez e viveu enquanto durou.
É por isso que jamais te esquecerei.

Parabéns Puto!]

terça-feira, 8 de março de 2011

A Luta é Alegria




Camaradas, finalmente Portugal elegeu uma música que foge às melodias rascas numa mistura de degredo pop com letras banais dos últimos anos interpretadas por Rui Bandeira, Luciana Abreu, Non Stop, Flor do Lis, Filipa Azevedo, Sabrina, Vânia, Sofia ou MTM.
Parece que todo o país acordou no sábado para assistir pela primeira vez ao Festival da Canção desde 1980 e descobriram que os nossos concorrentes nos vão envergonhar no estrangeiro. Que atrevimento dos Homens da Luta; que hipocrisia de um povo musicalmente inculto!

Não é palhaçada. Julgo que o povo sentiu mesmo uma energia e uma ligação a esta música como um movimento de força a, essas sim, palhaçadas neste estado de injustiças.

Este país tem cada vez menos do povo. E isso também faz falta. Ignorar isso é uma parte importante da nossa falta de identidade que nos tem levado para um abismo, para uma geração de gente que não sabe o que é ser português, o que essa alma representa e o que são as nossas raízes.

E, mais importante que tudo, ignorar este tipo de mensagem é ter uma mente fechada e pouco conhecimento histórico deste concurso em Portugal pois, neste contexto, não podemos desassociar música e política. O Festival da Canção teve significado, para mim, pela primeira vez por um simples motivo: renasceu nesta música o tipo de mensagem que passava neste concurso até 1974, não obstante a melodia.

Não quero o Neto nem o Falâncio como governantes, naturalmente, como certamente eles também não querem isso. As pessoas confundem tudo ao darem exemplos do que poderá acontecer daqui para a frente tendo como base de exemplo esta vitória.
Tretas: nenhum emplastro será governante porque as pessoas sabem distinguir as coisas. Aliás, nenhum Primeiro-ministro ou Presidente da Republica que se recandidatou foi derrubado em votos portanto não vale a pena conceber-se teorias psicóticas com a intenção de desvalorizar a vitória dos Homens da Luta.

Nem sempre o local escolhido é o ideal mas serve de pretexto. Uma das mais genuínas manifestações contra o poder político que vi em Portugal foi a enorme assobiadela que o então Primeiro-ministro Durão Barroso levou na inauguração do Estádio da Luz.
Foi palhaçada e falta de educação? Talvez.
Mas isso não foi o essencial a tirar daquela situação.

Os Homens da Luta não estavam minimamente interessados na música. Se tivessem perdido tinham saído dali com a mesma atitude e o mesmo discurso e é isso que esta camada populacional que se preocupa mais com as aparências do que com a essência das coisas ainda não foi capaz de perceber. É que, como disseram os vencedores, “vale mais uma nota sentida que uma nota afinada”, partindo do principio que nos restantes existiam notas afinadas.

Por falar em atitude, foi lamentável a forma anti-desportiva e desrespeitadora pela decisão conjunta do júri e do público como os concorrentes derrotados assobiaram os vencedores na hora de receberem o troféu. Uma demonstração gritante daquilo que somos: porcos, feios e maus.

Portugal é assim e sempre será: continuamente fecham escolas e hospitais mas o que interessa é mostrar os nossos estádios novos; somos dos países com pior qualidade de vida na UE mas o que interessa é engalanarmo-nos na organização da cimeira da NATO; as pessoas sentem-se inseguras e há portagens em todos os troços com boas vias mas o que interessa é mostrar que temos poder para comprar cada vez mais submarinos e chaimites inúteis; não temos uma voz de jeito no Festival da Canção quase há 20 anos mas sempre dá mais jeito mandar uma Luciana Abreu plastificada e com uma armadura de encher a vista do que os Homens da Luta que, vejam lá a ousadia, vão passar uma má imagem do país!

Concluo dizendo que os Homens da Luta venceram destacadamente as votações online e telefónica e venceram dois distritos na decisão do júri, nomeadamente, Viseu e Bragança. Isso prova que estes concorrentes não estão assim tão deslocados da realidade.

Se é a música ideal? Talvez não.
Se tem a letra certa? Em parte sim.
Se demonstram a atitude correcta? Sem dúvida.

E adivinhem esta: quem é que vai estar, no dia 12 de Março, na Avenida da Liberdade a dar voz ao povo, ali mesmo ao meu lado? Pois é, os Homens da Luta, esses grandes chatos!

sábado, 5 de março de 2011

Amor de Perdição


História de um reino, de uma vida
De um amor maior que tal fraqueza.
Pedaços débeis dessa sina
Envoltos em tão estranha beleza
Foi o destino que os juntou, com certeza!

Alma enorme e sofredora
Símile existência à d’el Rei Justiceiro
Que jaz de frente a quem outrora
Fez dele mais que Rei, feiticeiro
E o casou na vida em terceiro!

Foi a morte impiedosa, atroz e fel
Que fez dela póstuma rainha de Portugal!
E tal Rei que dizem Cruel
Por amá-la de forma tão especial,
Tornou esse amor imortal!



* [breve poema dedicado ao amor mais bonito que a história da humanidade já conheceu e que uniu D.Pedro I a D.Inês de Castro. Segundo a lenda, as lágrimas derramadas por D.Inês de Castro aquando do seu assassinato deram origem à Fonte das Lágrimas na Quinta das Lágrimas, em Coimbra.]


** [Este poema é para a Marta que conheci, precisamente, em Coimbra.
Porque Coimbra une pessoas de tal modo que nunca mais ninguém as irá separar.]

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Estranha Forma de Vida


Estranho modo tem o meu Sporting de tratar quem lhe oferece tanto em troca.

Foi assim com o Manuel Fernandes, com o Sá Pinto, com o Oceano ou, por exemplo, com o Iordanov.
Dão anos das suas carreiras ao Sporting muitas vezes sem títulos para depois serem dispensados ou vendidos por trocos que irão pagar os ordenados a jogadores que, muitas vezes, acabam por ir jogar no Benfica ou no Porto.

Reparem: Liedson esteve no Sporting 7 anos e meio e venceu apenas 2 taças de Portugal e outras tantas supertaças tendo ainda jogado uma final da UEFA.
Fossem todos como ele e a lista de troféus era maior.

Agora sai a meio da época, pela porta pequena, a troco de 2M€ que irão ser investidos nos ordenados da carrada de Saleiro's, Yannick's e Cristiano's que andam por lá.

Logo o Levezinho que, lembro-me, chegou a estar em final de contrato e a poder assinar livremente por outros clubes que o cobiçavam com notas como o Shaktar ou o Besiktas mas sempre manifestou o interesse em continuar em Alvalade.

É nisto que se transformou o meu Sporting?

Sexta-Feira, contra a Naval, lá estarei para a despedida.

Para a eternidade ficam os golos, tantos golos, que correspondem a outros tantos momentos de alegria, felicidade, choro, emoção e amor ao Sporting.
Fica aqui o que escrevi sobre ele.

Um último elogio:
a seguir ao Jardel foi o melhor avançado que vi jogar em Portugal.
Mas bolas, o Jardel era de outro mundo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

As Janeiras

Para fechar a época natalícia em beleza, desejo-vos um óptimo dia de Reis (mesmo que seja só o que falta dele).

Para acompanhar este meu voto, nada melhor que mais um belo momento do Bruno Aleixo e adequado época.