segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Raúl: Da Pátria. Do Povo. Do Palco.


Podia, como fiz no segundo post que escrevi no Sumo de Kiwi ("Fernando, uma genial Pessoa"), fazer acerca de Raúl Solnado uma sinopse do que foi a sua vida profissional.

Não quero. Podia, mas não quero.

Isso vou deixar para quem percebe, para quem sabe, os críticos e os que o viram em palco no auge da sua carreira.

Sei pouco de Solnado. Sei muito do Povo.
Solnado era do Povo.

Como o Fialho Gouveia, que nos disse um "Até Já" ou como o Carlos Cruz.
Estes três apresentaram um dos mais cómicos programas de Humor em Portugal. Digo-o porque o sei, porque o comprovo na RTP Memória (sim, este canal é o expoente máximo de serviço público). As suas interpretações de Ludgero Clodoaldo são maravilhosas!
Sim, porque actualmente existe em Portugal a tendência para confundir Humor com Brejeirice. Solnado fazia Humor, do bom.

"Ensinou a rir um país que não está habituado a rir" - disse Carlos do Carmo, numa saudação final a Solnado.

Como disse, o trajecto profissional de Solnado e as suas qualidades artísticas entram quase em segundo plano neste contexto. Aliás, quase todos os que falaram e o conheciam de perto, destacaram em primeiro lugar as suas qualidades humanas.

"É do Povo, é um dos últimos artistas acarinhado pelo Povo", destacou Vítor de Sousa. Num país onde reinam os "Chunga-Chiques" (como os apelida, e justamente, um amigo meu), Solnado era um oásis no deserto de talento que existe no nosso país.

Ele fazia rir. Perdão, ele ainda hoje faz rir. 40 anos depois vejo "Zip Zip", "Quem Te Viu e Quem TV" ou a sua famosa "Guerra de 1908" e rio desalmadamente. Por falar em "almada", quase nem queria acreditar quando soube (na RTP Memória) quem foi o primeiro convidado do "Zip Zip": José de Almada Negreiros, um dos artistas que englobou a chamada Geração de Orpheu e que escreveu um dos melhores textos que já li na vida: "Manifesto Anti-Dantas", magnifico.

Um cruzamento de gerações absolutamente imperdível e inesquecível.

Raúl Solnado contornou através da sua "Guerra de 1908", da forma mais inteligente, graciosa e corajosa a censura ao regime ditatorial vigente em Portugal, pela mão do Professor Doutor Marcello Caetano, abordando a Guerra Colonial em África.

Solnado é e será sempre, por isto, da Pátria.
Solnado é e será sempre, por isto, do Povo.

Que o Povo e a Pátria se unam para que ele seja imortalizado no palco, num hipotético Teatro Raúl Solnado.

"Eu não me venho despedir... porque ele vai estar sempre comigo" rematou Francisco Nicholson, embebido em lágrimas, destacando assim a figura de Raúl Solnado.

Raúl é daqueles que não morre. Apenas vai ali e nós vamos já ter com ele. Entre uma coisa e outra fica a saudade dos que o adoram e a gratidão dos que o admiram.

Jorge Gabriel escreveu um dia palavras que nunca esquecerei, acerca da morte de outro Raúl (Durão): "Eu lutei Raúl. Lutei muito, sofri outro tanto e chorei ainda mais. Mas consegui.".

Portugal, não o Povo mas a Pátria, faz o epitáfio de Raúl de forma semelhante: "Portugal lutou Raúl. Lutou muito, sofreu outro tanto e contigo riu ainda mais. Mas conseguimos."

Conseguimos a Liberdade.
Lado a Lado.

Aos 79 anos, este é apenas um "Até Já" do Artista, muito contra a sua vontade como referiu Alice Vieira.
Com certeza, as suas últimas palavras para o Povo terão sido... "Façam o favor de ser Felizes!".