segunda-feira, 21 de julho de 2008

À Procura Do Fado


Eu sou um grande chato. Quase que podia ser militante do BE, como bem sugeriu a minha querida, quase conhecida, Cláudia Ferreira. Sou tão chato que gosto de chatear os meus amigos que dizem que o fado é chato. Como o Nuno Gomes, esta noite. Disse eu que no dia 09 de Agosto não ia dormir na casa que alugamos para aproveitarmos o sol algarvio porque ia ver a Ana Moura a Tavira. “Quem? O quê? Fado? És tonto!”, diz o Nuno com os risos do resto da malta por trás. E eles são tão tolos, mas tão tolos… se ouvissem, por dez minutos apenas a Ana Moura, a Amália, o Camané ou o Carlos do Carmo teriam que se render. Poderiam não gostar, mas teriam que lhes reconhecer um talento que a minha alma sente quando os ouço. “O fado é chato? Digam-me três músicas que conheçam!”. E eles calaram-se. Eles acham que o fado é chato porque sim. É chato porque sim! Isto faz sentido? O que faria sentido era pensarem (ou ouvirem) antes de falar. “Porque é que tens de ter resposta para tudo?”, pergunta a Vanessa. Porque eu, sim, sou um chato. Um grande chato. Agora o fado não.

E foi com muito agrado que acerca de 1 mês atrás recebi o convite da minha amiga Tânia Machado para ir ver um concerto da Ana Moura ao renovado Cine-Teatro de Alcanena no passado dia 11. Disse, sem hesitar, “sim”! A música que melhor conhecia de Ana Moura intitula-se “Fado da Procura” e eu delicio-me a ouvi-la. Um fado corrido onde Ana Moura pergunta “mas porque é que a gente não se encontra?”. Encontramos, pois, que eu não deixei escapar a oportunidade.

E assim, com o “Fado da Procura” na cabeça eu fui à procura do fado.

Entrei no novo Cine-Teatro de Alcanena e fiquei agradavelmente surpreendido. Um espaço acolhedor e bastante agradável, com excelentes condições para a realização de espectáculos de diversos tipos. Enquanto esperava que as luzes se apagassem e se fizesse silêncio, comentava com a Tânia que este tipo de salas tinham um efeito bastante positivo para noites de fado. Um efeito talvez até melhor que o Coliseu de Lisboa onde as dimensões da sala retiram a cumplicidade existente em salas mais pequenas, como a de Alcanena, onde os 300 lugares esgotaram para ver a fadista.

Apagam-se as luzes. Faz-se silêncio. Entram os guitarristas e, logo de seguida, Ana Moura.

Custódio Castelo dá então os primeiros acordes. Que beleza. Castelo dança ao som do seu próprio dedilhar. Castelo, que em 2004 foi dado como “inapto” para a vida de guitarrista devido a uma ruptura de ligamentos provocada pela calcificação dos ossos, traz-me momentaneamente à memória Carlos Paredes. Não que ouvisse Carlos Paredes, porque não ouvia, mas se Castelo toca assim, imagino como seria ver Paredes ao vivo.

Ana Moura vira-se de perfil para o público em sinal de respeito com a “Guitarra” que encara de frente e que começa a cantar. Mas eu estou encantado com Castelo. Custódio Castelo assim que foi dado como inapto, foi buscar a guitarra portuguesa, irrompeu pelo consultório do Dr. Brás Cardoso adentro e sentou-se. Tocou à sua frente e disse-lhe: “Eu faço isto, estou com muitas dores e na iminência de deixar de o fazer. Salve-me por favor”. O médico comoveu-se e decidiu abrir uma excepção: “Vai ficar a tocar ainda melhor”. E como toca Castelo… teria ficado ali a noite toda a ouvi-lo tocar, a vê-lo dançar e a tremer na cadeira cada vez que ele fechava os olhos. Aquele homem ama o que faz. E a guitarra ama-o. Uma delícia. Um chato também, este Castelo, que quis uma segunda vida de guitarrista. Mas que grande chato, não é?

E dança a Ana Moura. Dança carinhosamente enquanto canta “Sou do fado, Sou fadista”, “No Expectacions”, “Aconteceu”, “Rosa Cor de Rosa” ou “Mapa do Coração”. Ana Moura, nascida em Coruche, é portadora de uma voz fantástica, onde a rouquidão penetrante se confunde com os rompantes que arrancam os habituais “ah fadista” vindos do público. Casava-me só com a sua voz. E os meus olhos brilham cada vez mais. A Tânia já só olha para mim a tentar perceber porque tenho aquele sorriso estúpido no rosto ao mesmo tempo que danço na cadeira. Porque sou um chato, Tânia. Um grande chato.

Enquanto Castelo volta a tocar sem a voz de Ana Moura, esta bebe um cálice e conversa com o público, alcançando, naquele momento, a cumplicidade que eu gosto nas noites de fado. O público pede então que cante “Búzios” e Ana Moura faz levantar a sala. Que maravilha… a que profundezas foi o mundo buscar esta voz de deusa? Encontro-me, à altura, simplesmente enchanté.

Ana Moura despede-se então do público. Este não arreda pé e só volta a sentar-se quando a Ribatejana volta ao palco. Volta para pôr 300 pessoas a cantarolar os famosos versos de Carlos Ramos onde este exalta o fado, aconselhando o povo num explícito “Canto o Fado”. Lucília do Carmo também é recordada num “Fado Loucura” e a noite termina novamente com “Búzios” mas agora com toda a sala a cantar num murmúrio absolutamente deleitoso. E Ana Moura deixa-me com água na boca, de tal forma que não quero ficar por aquela hora e meia e já tenho os bilhetes para mais uma noite inesquecível. É uma chata, ela. Uma grande chata.

Percebo agora porque foi Ana Moura escolhida pelos Rollings Stones para integrar o projecto musical levado a cabo pela banda norte-americana que culminou com um concerto no Estádio Alvalade XXI em Junho de 2007. Não foi por acaso. Tim Ries também deve ser chato. Um grande chato.

E olha, Ana, dia 09 de Agosto lá estou eu em Tavira para te voltar a ver. Prefiro pagar 10€ para te ir ver dançar e cantar com um xaile preto aos ombros e três velhotes à tua volta com uma guitarra nas mãos, do que gastar os mesmos 10€ numa qualquer discoteca algarvia onde as turistas se exibem, não com o xaile preto, mas com tecido a menos, para os meus amigos que me gozam por te ouvir.

Mas isso sou eu, Ana, que sou um chato. Um grande chato.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mudança


Aos poucos sinto a minha vida a mudar. Finalmente parece ganhar os contornos com que sempre sonhei. Inesperadamente as coisas começam a aparecer. Mas não caem do céu, eu luto diariamente por elas. E começo a acreditar na “lei” de que quem luta sempre consegue alcançar os seus objectivos/sonhos.

Desde pequenino que sonhava morar em Lisboa. O Tejo… quem ama Lisboa sabe do que eu falo, o Tejo tem um brilho que mais nenhum rio tem; os bairros típicos de Lisboa têm um aroma diferente; e o movimento, a vida que existe, faz-nos sonhar a toda a hora.

O ano passado, neste mesmo dia, comemoravam-se as 7 maravilhas do mundo. Lembro-me perfeitamente onde passei esse dia: acordei às 6h nesse sábado e durante toda a manhã fui trabalhar. Dormi a tarde toda, tentava descansar as pernas doridas do esforço da semana e o cérebro que parecia poder entrar em colapso no minuto seguinte. Acordei novamente por volta das 18h e fui escrever um poema, para matar as saudades que tinha do meu primo. Um primo que amo como um filho e que a estupidez humana me impediu de ver no dia 10 de Junho, o dia do seu próprio aniversário. O João Paulo não sabia e, na inocência dos seus frescos 9 anos, perguntou-me porque não o ia ver no dia do seu aniversário. Eu disse que tinha que trabalhar. Mas não. Simplesmente as únicas pessoas que me podiam dar a felicidade de o ver, tinham-me negado essa possibilidade. Isso eu não esqueço. Nunca. Como não esqueço o fim de tarde do dia 07 de Julho de 2007: enquanto escrevia sobre o João Paulo as lágrimas corriam-me desenfreadamente pelo rosto. Lembro-me que usei um rolo inteiro de papel higiénico para limpar as lágrimas. Um rolo inteiro. Subitamente, começo a ouvir uns passos fortes e pesados a subir em direcção ao meu quarto. Enquanto limpo atrapalhadamente as lágrimas alguém abriu a porta e me perguntou: “o que se passa?”. Eu respondi “nada!” mas apetecia-me responder “tu sabes bem o que se passa!”.
Nessa noite lembro-me de olhar o tecto do meu quarto em busca do melhor ponto para acabar com aquele sofrimento. Durante cerca de uma hora fiz cálculos a tentar perceber se o candeeiro aguentava com o meu peso. É verdade, eu estava a entrar em paranóia.

Não quis acreditar quando não entrei na faculdade em Lisboa por apenas 1 décima. “Parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar” era só o que me vinha à cabeça! Mas teria Rui Veloso razão? Eu sabia que não, porque eu sei do que sou feito. Sei que tenho em mim uma força de alma enorme que pode conquistar o mundo… eu arrisquei a minha vida, o meu futuro mas queria mostrar a toda a gente que era capaz de atingir os meus objectivos.
Sei que um dia vou lá estar, no alto, e vou olhar para todos com a mesma humildade e olhar inocente que olho agora que estou cá em baixo. Sei que serei grande.

E hoje a minha vida deu mais um passo nessa mudança de que vos falo. O meu futuro, tudo o que eu tinha chorado durante um ano, tudo o que eu possa sonhar, estava dependente de 1 de 2 números que eu ia ver em breve. Sabia que o exame de português me tinha corrido mal, por isso, e para criar mais emoção ao meu próprio coração, vi essa nota primeiro: 13. Então lembro-me que parei 10 segundos e pensei “bem Ricardo, a tua vida vai mudar consoante o número que estiver ali ao lado”… era um 18.
E eu comecei imediatamente a chorar. Chorei de alegria. Chorei de orgulho. Chorei de raiva. Chorei de vingança. Tinha aquelas lágrimas contidas desde o anoitecer do dia 19 de Outubro de 2007. E tenho mais. Muitas mais que hei-de libertar a seu tempo.

Lembro-me de ligar o meu ipod para ouvir propositadamente uma música: Walk On, dos U2. Tem um significado inestimável para mim. Saí da escola a sorrir enquanto os óculos escuros me tapavam as lágrimas que teimava em não deixar fugir pelo rosto. Sentei-me na escadaria da igreja que dá de frente com o Liceu Passos Manuel e então libertei as amarras a essas lágrimas… enquanto ouvi aquela música, chorei desalmadamente e ia pensando em tudo o que tinha sido o último ano da minha vida.

Então depois comecei a dizer às pessoas que faziam figas por mim. Primeiro o meu irmão, depois a Joana, a Leonilde e a minha mãe. E por aí fora.

Hoje senti a minha vida a mudar.
Esperem por mim para um dia verem onde vou chegar. Eu tenho coração, talento, alma e força.
E um dia terei sorte. Tenho tudo.

Hoje dei uma chapada de luva branca a muita gente.
Mas aqueles que me querem bem, dei um presente do tamanho do mundo.

Obrigado…

• À minha Mãe com quem chorei tanto abraçados no meu quarto;

Ao meu irmão André que ao longo de toda a vida tem sido um exemplo para mim e que jamais me abandonou;
• Ao Gui, que sem o saber foi a razão de eu sorrir em tantas noites da minha vida… é o meu filho;
• Aos meus tios Hermínia e Vítor que foram meus pais quando eu precisei, como continuo a precisar;
• À minha prima Sílvia que me dá a mão a toda a hora para que eu nunca tenha a tentação de cair;
• À Joana (Companheira) e ao João Carlos que eu amo como se amam dois irmãos;
• À Ti Nanda, ao Cesário e à Patrícia que, mesmo quando o azar lhes bateu à porta, tiveram sempre algo mais para me oferecer;
• Aos meus pequeninos, o Manel e o João Paulo, que me devolvem a alegria de viver só de os ver sorrir. E isso foi, e é, inexplicavelmente importante na minha vida;
• À Sofia, uma amiga sobre a qual tenho dificuldade em escrever, devido ao carinho enorme que tenho por ela. Ela chorou comigo. Ela apoiou-me sempre.
• Ao Tavares com quem posso confiar e partilhar as minhas lágrimas;
• À Carolina, à Susana, à Marta, ao Luís André, ao Rui Flora, ao Jorge, à Sofia Frazão, à Filipa Pedro e à Inês, que tiveram sempre, mas sempre, uma palavra para mim;

• Ao David que me mostrou como a amizade pode ultrapassar todas as barreiras;
• À Núria que se revelou uma pessoa incrivelmente bonita na hora em que mais precisei;

• Às professoras Leonilde e Cristina, duas mulheres que jamais esquecerei. Obrigada por todas as palavras.
• À Nini, à Raquel, à Marta e ao Ricardo, o melhor que guardo de Coimbra.

• A todos aqueles que me fizeram dar um passo atrás na vida, porque sem eles isto não me daria tanto gozo…

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Verde


É vida.
Paixão colorida que percorre os meus sonhos de criança.
Continuo nesta andança como se fosse uma dança.

Mas não é.
É bailado.
Apaixonado.
Por vezes roça a loucura.
Mas que doçura…

É um encontro do paraíso com o inferno.
Do afecto paternal com o peito materno.
É um querer eterno.

É esperança também.
E eu sei esperar como ninguém.
Se a minha esperança em ti morrer, nada mais me poderá acontecer.

É o meu céu, o meu rio, a minha chama.
O meu sangue.

Porque verde não é cor.
Verde é amor.



p.s.: esta é uma dedicatória ao meu grande amor, que hoje celebrou 102 anos. A ti, meu Sporting.