segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nobel do Fanatismo: Ocidentais Cristãos



Acho piada aos ocidentais cristãos. Têm piada, a mesma piada que caracteriza os manifestantes de extrema direita ou as claques de futebol mais agressivas, porque só têm a importância que lhes damos e a piada incide em vermos as figuras patéticas que as pessoas fazem escondidas atrás de uma capa dogmática como a religião cristã.


Não compreendo como é que os cristãos criticam tudo o que lhes faz espécie na sociedade e depois se alguém lhes aponta o dedo reagem como virgens ofendidas. Faz lembrar aquele miúdo que na escola está sempre a dar caldunços aos colegas mas se há um que responde, ele vai a chorar para casa fazer queixinhas à mãe.


Ora, a Igreja católica (possivelmente como outras igrejas cristãs) comenta tudo o que se passa no mundo, se for preciso o Padre no domingo de eleições diz em quem as pessoas hão-de votar em pleno altar, é uma instituição retrógrada nas suas perspectivas, acha-se um poder superior até ao próprio poder estatal, tem influência em todos os sectores da sociedade mas, e por mais paradoxal que possa parecer, tem tendência a morrer aos poucos. Faz lembrar o comunismo: vive centrado em ideias ultrapassadas, capta na sua maioria a população mais idosa e se alguém critica os seus ideais excomungam publicamente esse alguém.


É curioso que, partiu de um reconhecido comunista e prémio Nobel da Literatura (1998), José Saramago, a mais recente crítica à igreja cristã.


As bases da Igreja cristã são dogmáticas, ou seja, acredita quem quer. Mas, na realidade, aqueles que não acreditam são vistos na sociedade como a “ovelha negra”.

Já notaram neste aspecto: as pessoas mais novas hoje em dia dizem-se católicas porque sim; Porque o pai era, a avó era e elas também têm que ser sem perceberem bem o que estão a fazer numa missa ou com um crucifixo ao peito. Além dos aspectos científicos adjacentes ao próprio ser humano, as únicas acções que são entendidas como sendo do processo natural do crescimento do Homem são os processos cristãos: baptismo, casamento, etc. Se eu disser que não me quero casar ou que não quero um símbolo religioso no meu funeral aparecem logo as velhinhas da aldeia a dizer que sou louco. Porquê?!...

São essas mesmas ideias cerradas que consideram o livro de Saramago “Caim” como um documento maldito mesmo sem o terem lido. São pessoas que aceitam as coisas sem as estudarem, sem as lerem. São pessoas que não sabem do que falam.


No outro dia, alguém me disse: “Mas se o Saramago é ateu, é porque não conhece a Bíblia”. Completamente errado, minha cara. Tenho a certeza que José Saramago conhece melhor a Bíblia que a maior parte das virgens ofendidas que o vêm agora criticar na praça pública como se fazia, e disse Saramago muito bem, nas fogueiras inquisitórias.


Eu próprio deixei de ser crente quando comecei a ler a história do cristianismo e, principalmente, a da Igreja Católica. É das instituições mais criminosas que temos hoje em dia. Acredito em Jesus Cristo enquanto pessoa e ser humano muito inteligente para a época em que viveu. Nada mais que isso.


Contudo, já me sucedeu ir à missa, por circunstâncias muito específicas, e depois uma dessas sujeitas que nem sabe o que lá está a fazer me criticar por eu não ter feito o crisma, em frente ao Padre, e acabar por fazer figura de pateta quando abertamente eu citei uma das passagens que o Padre tinha dito na missa e que, de certa forma, justificava a minha opção de não fazer a crisma. Ou seja, eu, que não acredito, percebo mais e estive com mais atenção às palavras do Padre que a menina esperta que fez o crisma (possivelmente para mostrar um fato novo na igreja).


Respeito quem acredita mas faz-me espécie este tipo de exemplos: a D.Maria foi operada com sucesso à vista e, quando já não via quase nada passa a ver muito bem. Então, a D.Maria, uma senhora muito católica, vai a Fátima gastar a reforma dela na forma de velas e donativos porque Deus fez um milagre. Eu gostava de ver, se a operação tivesse corrido mal, se a D.Maria ia processar o médico ou Deus, porque o milagre já não tinha acontecido.


São crenças que respeito mas não acredito. Como Saramago não acredita e só porque disse publicamente que “a Bíblia é um manual de maus costumes que defende um Deus cruel” é crucificado publicamente. Tal como Cristo foi por defender ideias próprias! Irónico, não é?...


O exagero e o fanatismo são de tal ordem que agora parece que Saramago perdeu todas as qualidades literárias e todos os prémios que recebeu lhe foram mal atribuídos. Há mesmo um deputado do PSD que sugeriu a Saramago que renunciasse à nacionalidade portuguesa ao que o escritor se limitou a dizer que se “sentiria estúpido se lhe respondesse”. É o que digo: esta malta tem piada se os deixarmos a espumar a raiva sozinhos.


Como esse tal de Sousa Lara que em 1991 nada mais fez do que assumir que o Estado tem religião ao proibir que “Memorial do Convento” fosse leccionado nas escolas portuguesas. Para mim, isso foi crime: o Estado português é laico! Mas, como disse, a Igreja Católica tem poderes superiores ao do próprio estado, logo não me surpreende.


E alguém acredita que Saramago fez isto por publicidade?!

Ele que tem um prémio Nobel, 87 anos de idade, obras publicadas em todos os continentes e nas mais variadas línguas, a vida feita, os livros que tinha a vender já os vendeu, fez isto por publicidade?! Curioso é que o livro que disparou as suas vendas nas livrarias durante a semana passada em resultado da polémica foi… a Bíblia!


Não sei se se recordam mas aqui há uns três anos um cartoonista dinamarquês, não sei em que contexto, ofendeu a Religião Muçulmana através de uma publicação num jornal. De imediato os muçulmanos reagiram abruptamente e então, os ocidentais cristãos, que se julgam donos da razão religiosa, acusaram os muçulmanos de exagero, extremismo e fanatismo.


Esses tais que, agora com Saramago, reagem exactamente da mesma forma.


O Fanatismo faz as pessoas cegas!


6 comentários:

'stracci disse...

A Bíblia está desactualizada, a Igreja está desactualizada e as pessoas continuam a viver e a acreditar numa entidade que discrimina a mulher, que é controladora e manipuladora e que, a continuar assim, nunca vai apresentar inovações. Só que as pessoas são tão "pobres de espírito" que não têm sentido crítico, nem confiança em si mesmas; portanto, preferem acreditar que o poder está na mão de terceiros, para justificar a sua inércia e apatia face à realidade. Enfim... são os vizinhos de planeta que nos calharam!

Deivid disse...

Acho este caso absolutamente ridiculo. Na minha opinião, José Saramago não critica a
igreja para publicitar o seu livro. Só as pessoas ignorantes podem ter este pensamento! É um facto, que está na moda escrever sobre religiões. Um dos autores que o faz é Dan Brown, com grande sucesso. Será este sucesso á custa deste tema?? Pelo menos no caso do Saramago, não me parece que ele precisasse disto.
Acho uma estupidez, que ele não possa dizer o que pensa, só porque vai contra a igreja.. Por favor.. As opiniões têm que ser respeitadas! A igreja quer sempre impôr as suas teorias e é
intolerante para quem vai contra elas..
Acho que cada vez mais as pessoas se afastam da igreja, pois esta parou no
tempo..continua com as mesmas ideias e no meu ponto de vista até promove a desigualdade.
Cada vez menos acredito em religiões.
Para além de todas as ideias que tentam impôr, não nos podemos esquecer do negócio que
está por trás da igreja....
Ainda não li o livro, mas concordo com Saramago. Sei que a biblia tem um codigo penal,
extremamente antigo, mas desumano mesmo para a altura em que foi feito. Defender a pena
de morte para quase todas as situações, não me parece um bom principio!!
Acredito que a maioria das pessoas não conheçam a biblia e por isso vivam tão
fanaticamante a religião e tambem acredito que muitas vão para ver os modelitos e
criticar este e aquele!
Um dia isto pode mudar. E é isto que eles não querem.

Anónimo disse...

Independentemente dos temas escolhidos por Saramago para os seu livros e da sua capacidade literária, não aprecio a forma como ele escreve, sem pontuação com as ideias todas seguidas, torna a leitura um pouco monótoma.
Quanto ao seu último livro "Caim", pelos comentários que li, parece-me que ele transcreveu para o papel aquela que é a sua opinião á cerca da bíblia e da religião cristã, e penso que deve ser lido como tal, e não como se fosse um conjunto de declarações que veem para revolucionar o mundo.

" A bíblia como manual de maus costumes, de um DEUS cruel" será??

A bíblia foi escrita á 2000 anos, certo? Escrita por pessoas de á 2000 anos, que pensavam como á 2000 anos... os episodios nela descritos devem ser compreendidos á luz dos acontecimentos de á 2000 anos e não para serem lidos a letra. Por exemplo, é costume dizer-se: "fulano, deita-se com as galinhas..." e com isto não estamos a dizer que este ou aquele vá dormir no poleiro com as galinhas, mas sim que ele se deita cedo.

O episódio de Caim, por exemplo, relembra desavenças familiares, uma realidade que passados 2000 anos continua a haver, e cada vez mais...

A bíblia com um código penal... a defender a pena de morte... pelo contrário, a vida como valor máximo.

Ricardo Jorge Rodrigues disse...

Anónimo:

1 - Quem entendeu que as palavras de Saramago era revolucionárias foi a Igreja Católica;

2 - Como diz, e bem, as palavras escritas na Bíblia são de há 2000 anos escritas por pessoas dessa época logo não devem ser ajustadas aos dias de hoje. Contudo, a única instituição que pretende reger a sociedade através dessas ideias é a Igreja Católica.

3 - A Bíblia, principalmente no Antigo Testamento tem passagens absolutamente assassinas.

4 - O episódio de Caim representa um episódio familiar ainda hoje recorrente? Certo! Mas as atitudes dos personagens bíblicos (julgo que principalmente do pai de Caim - se não estou em erro) eram já crueis como o são hoje em dia. Ou seja, não é por serem banais que são menos crueis.

5 - A Igreja Católica rege-se pela Bíblia defendendo valores completamente ultrapassados. o valor da Família nunca é ultrapassado mas ouvir os representantes eclesiásticos falar do uso do preservativo ou do casamento entre homosexuais é surreal e hilariante.

6 - É pouco relevante para o caso o facto de se gostar ou não da escrita de Saramago. Eu próprio nunca especifiquei aqui se sou ou não um fã do Ribatejano (tal como eu). Aliàs, se verificar, só por uma vez elogiei um escritor aqui no Sumo de Kiwi: António Lobo Antunes, curiosamente um "inimigo" pessoal e profissional de Saramago.

7 - Agradeço a sua participação no Sumo de Kiwi pois criticas construtivas são sempre muito bem vindas! Quando são ofensas ou comentários semelhantes retiro-os do blog pois esconderem-se atrás do anonimato como modo de cobardia não encaixa neste espaço. Este comentário por si efectuado não será retirado visto entrar nos parâmetros por mim estabelecidos.

Obrigado,
Ricardo Jorge Rodrigues.

Anonimo disse...

O texto está magnifico. Com o seu espirito aberto e do tamanho do mundo, o Ricardo não para de supreender, sobretudo por chegar onde mais ninguem chega e compreender o que mais ninguem compreende. Continua!

Anónimo disse...

Estou com imensa curiosidade... Devo confessar que não me adapto muito bem a escrita de saramago mas depois de toda esta polémica (que foi uma optima campanha publicitária)aguardo com expectativa a leitura do caim.
Obrigado pela sua apreciação.:)