sábado, 23 de agosto de 2008

Barreiras


É assim. Foi assim que a vida quis. Ela manda, eu respeito-a, obedeço-lhe, olho-a de frente, sorrio-lhe e avanço.

Podia estar agora, com toda a naturalidade, a escrever sobre um amigo que um dia tive. Um amigo com quem cresci, com quem aprendi algumas das coisas mais elementares e deliciosas da vida, alguém com quem passei alguns dos momentos mais divertidos da minha vida – das diagonais ao Treze -, alguém por quem me levantava da cama para o ajudar fosse a que hora fosse por que sei que ele faria o mesmo por mim.

Como diz a “velha escola”, por ele eu dava a minha camisola. Acreditem que há uns tempos atrás a loucura intrínseca à idade e os devaneios da imaturidade me levariam a dar a camisola por muita gente. Hoje não. E ele, esse grande amigo, continua a estar no lote daqueles por quem eu me sacrificaria. E nunca deixou de estar. Acredita mesmo amigo, nunca deixaste.

Por vezes, nas noites em que nos sentimos cansados e mortos mas não conseguimos dormir e a saudade nos ataca, chorei por pensar que a vida me tinha roubado tudo o que de mais bonito me tinha dado até ali. Chorei por pensar que não mais voltaríamos a partilhar pequenos (grandes) momentos que eram responsáveis por parte daquilo em que me tinha tornado.

E afastamo-nos, por momentos. E isso eu não deixarei que volte a acontecer. Mas não deixarei mesmo!

Por isso, quando me convidaste para aquele café em Torres Novas e para ir ver o nosso Sporting respondi, sem hesitar, sem sequer pestanejar, que sim. Era importante voltar a conviver contigo, falar e deixar as coisas claras valorizando sempre a amizade que sabíamos existir.

Quando viajei até à Altura este ano pensei muitas vezes em como as coisas eram anos antes. Era uma viagem que fazíamos juntos. Este ano demorei cerca de metade do tempo mas esta viagem não teve o mesmo significado. Pagaria tudo para ter voltado a fazer aquela viagem em 8 ou 9 horas com outras tantas paragens mas sempre com a representação e a pintura que nos marcam e deixam saudade. “Ah, a saudade… essa senhora maldita”, como me disse um dia uma amiga que me viu partir de Coimbra.
A saudade invadiu-me também quando estava deitado na areia a procurar diagonais, a jogar UNO, a ler o Record, a fazer a minha equipa da Liga Record, a jogar futebol, a comer bolas de Berlim… enfim, são todas estas pequenas (grandes) coisas que estão gravadas em mim como parte de ti e me tornam a pessoa que sou hoje.

Quando deste um passo importante na tua vida, eu fiquei muito feliz por ti. Como se fosse por mim. Marcando aqui um pequeno aparte, lembro-me que um dia, no verão do ano passado, a Joana Companheira estava em Londres e queria saber a nota dela no exame nacional de Geografia. Pediu-me e eu fui lá. Ela teve 18 e eu, assim que vi a nota dela, chorei de um orgulho e felicidade imensa. Foi ali que percebi que ela era uma grande parte de mim porque eu chorava e ria por ela como o faço por mim.
De ti, eu já não duvidava disso, mas cada passo importante teu é também um caminhar importante para mim que sigo ao teu lado.
Porque, para mim, a amizade é isto: estarmos lado a lado a sorrir e chorar uns pelos outros, sempre dispostos a dar a mão.

Como disse no início, poderia hoje estar a falar de um amigo que um dia tive. Não quero falar dos porquês, porque não interessam, pois o que realmente importa realçar é que escrevo hoje de um amigo que tenho. E que terei sempre.
Tenho a certeza, porque se soubemos ultrapassar estas barreiras, então não haverá nada no mundo que cesse a nossa forte ligação. Porque “seremos cúmplices o resto da vida”.

Por todos os momentos já vividos, por todas as palavras já ditas, por seres assim tão genuíno e importante na minha vida… Obrigado David.

3 comentários:

Deivid disse...

Huf….o que tu me fizeste..Estou sem palavras...

Suspiro. Respiro fundo. Penso numa forma de expressar o que vai aqui dentro. Começo por recordar…

Recordo-me de que, com a nossa primeira viagem ao Algarve nos tornamos muito próximos e a partir daí fomos criando uma amizade ao longo destes anos.
Recordo-me das brincadeiras, dos jogos de futebol contra o teu irmão, da risota que era conversar com a tua mãe, das leituras na praia da revista Maria …
Recordo-me da magia das nossas viagens ao Algarve que duravam horas e horas, mas sempre animadas.
Recordo-me dos dias em que se juntávamos todos na tua casa..
Hoje, recordo com saudade. Um sentimento que me é tão característico. Que me deixa triste, por significar algo que já não volta e feliz porque me lembro dos melhores momentos da minha vida.

Tu Estás sempre presente. Sempre tiveste. Sempre irás estar.

Por momentos falhei, algo que me fez ter raiva de mim próprio.
Mas senti que estava a perder um amigo.
Um amigo de verdade.
Um amigo, que toda a gente quer ter.
Sempre disponível, sempre com uma palavra, sempre com um sorriso…

Hoje, a nossa amizade mantém-se..
Ultrapassou diversos obstáculos, por vezes ate muito complicados..
E uma coisa eu sei…Não a Quero perder Nunca!


És aquele amigo por quem eu estarei sempre disponível para ajudar no que tiver ao meu alcance.
Quero seguir o teu percurso.. o teu caminho...
Estarei aqui, a vibrar com as tuas vitórias e a apoiar-te nos piores momentos..

Tu Estás sempre presente. Sempre tiveste. Sempre irás estar.



Ps: Obrigado por tudo..

Anónimo disse...

A amizade. (E creio que não será necessário dizer mais nada para descrever o que li aqui). Para sempre. A amizade.

*Raquel
(e reitero, a saudade é mesmo uma senhora maldita. Cada vez mais.)

Sophie disse...

A amizade é um sentimento que devemos sempre partilhar mas saber também demonstrar e esta foi uma bonita forma de o fazeres!
És uma pessoa muito especial, de extrema sensibilidade.
Bonita homenagem que fazes ao teu amigo. Não mudes nunca.